A história do acordo A partir de 2009 entram em vigor as novas regras que prometem aproximar o português falado em Portugal e em outros 8 países, incluindo o Brasil. Isis Nóbile Diniz
A discussão chegou ao fim. A partir de 2009, o português “de Portugal” ou “do Brasil” – chamado por muitos lusitanos de “brasileiro” – será modificado. A tentativa serve para aproximar as duas línguas de modo que sites da internet, corretores gramaticais e documentos oficiais possam usar um único dicionário. Apesar da resolução parecer simples, esse debate se iniciou há um século.
Desde a época da colonização até hoje, o português falado em Portugal e nas colônias foi se modificando. Hoje, o português falado na terra tupiniquim é bem diferente daquele falado no país europeu. A diferença é menos perceptível nas outras ex-colônias portuguesas. “Nos países africanos onde o português é a língua oficial, o que se observa é que a língua é mais próxima aquela que é falada em Portugal”, explica Luis Carlos Cagliari, professor da Faculdade de Letras da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Isso porque esses países foram colônias portuguesas até recentemente e o Brasil conseguiu sua independência já há 200 anos.
O maior problema para chegar a um consenso não foi devido, apenas, à questão ortográfica. “Essa reforma teve motivação diferente daquela da época do Antônio Houaiss. Foi uma briga de poder intelectual e político, que revelou uma série de preconceitos”, afirma Cagliari. “Por exemplo, o fato de mudar a ortografia não significa que a alfabetização melhorará”, completa.
Com o acordo, Portugal mudará 1,42% das suas palavras, enquanto aqui a mudança vai atingir 0,43%. “Dentro do Brasil, um grupo não queria abrir mão da primazia do país, mas outro aceitava”, explica Godofredo de Oliveira Neto, presidente da Comissão de Língua Portuguesa (Colip) do Ministério da Educação (MEC). “Ao mesmo tempo, alguns brasileiros diziam que o acordo dava poder a Portugal. Por outro lado, existiam portugueses afirmando que as mudanças eram mais favoráveis ao Brasil”.
“Acredito que não deveria haver lei sobre o assunto, já que os países entendem o que o outro escreve”, avalia Cagliari. O objetivo do Acordo Ortográfico, no entanto, é facilitar a ortografia das palavras. Ao excluir o “c” ou “p” de algumas, como de “actor”, por exemplo, perde-se um certo charme de conseguir perceber, imediatamente, a procedência do texto. Entretanto, “o acordo não é uma camisa de força, muitas variantes regionais continuam”, diz Oliveira Neto.